Os desafios e oportunidades do presente

Novos canais e novos públicos demandam adaptação de fabricantes e varejistas

A ABRIN 2024 continua trilhando um túnel do tempo na sua comemoração de 40 anos. Se no primeiro dia a programação do ABRIN Talks voltou seu olhar para o passado, no segundo (4 de março) as palestras e apresentações se concentraram no agora.

Pesquisa exclusiva

A diretora de Pesquisas & Insights da EC Global, Alini Benzatti, abriu o dia apresentando uma pesquisa de mercado desenvolvida especialmente para a Feira de Brinquedos.

Na palestra “A realidade do setor de brinquedos e as expectativas de consumo a longo prazo”, ela detalhou o comportamento de compra de pais e outros adultos que presenteiam crianças em datas especiais, como aniversário, Dia das Crianças e Natal.

Na faixa de crianças de 7 a 12 anos, por exemplo, reside uma grande oportunidade: “Apenas 31% presenteiam as crianças com brinquedos, é uma grande lacuna para o setor explorar”.

Um dado bastante positivo é que, mais que a faixa etária, estas pessoas querem saber quais benefícios o brinquedo a ser dado de presente vai trazer para a criança.

Outros canais

O varejo de brinquedo vem se expandindo a tal ponto que, embora as lojas especializadas mantenham sua importância, outras vêm se destacando: desde papelarias voltadas a material didático até grandes redes de supermercado.

É o caso do Carrefour, representado pelo gerente Comercial Eduardo Coutinho no painel “Expandindo as vendas para outros tipos de negócios”.

Segundo ele, a grande maioria não vai aos estabelecimentos em busca de brinquedos, mas podem acabar saindo com um. “Trabalhamos com dois tipos: aquele que é para presente, que o cliente planeja comprar; e aquele acessível, que não vai prejudicar a lista de compras dele”.

Bruno Pranzetti, diretor-executivo da Papelaria de Brinquedo, contou que introduziu os brinquedos no seu mix depois de observar a interação das crianças com o material pedagógico. Para ele, “o lojista tem que definir seu público e trazer para a loja produtos que façam sentido para ele”.

Pelo lado da Uatt?, que começou como loja e depois expandiu para fabricante e licença, o CEO Rafael Biasotto destacou o papel da ABRIN para o mercado: “Uma feira como essa é uma grande convergente de oportunidades. Aqui nascem parcerias e se fortalecem relacionamentos”.

Presente também ao painel, o CEO da Valentina Brinquedos, Lucas Cardoso, emocionou a plateia com sua dura história de vida e todos os desafios que superou para abrir a empresa. “Todo começo é difícil, mas a persistência e a necessidade nos dão força”.

Força do colecionismo

O tema da nostalgia, do colecionismo e dos kidults voltou ao palco no segundo dia do ABRIN Talks no painel “Como os colecionáveis podem contribuir para o aumento das vendas?”.

Renan Pizii, da CEO da Iron Studios, reforçou que a paixão dos colecionadores é um fenômeno com os qual as empresas já convivem há alguns anos. “No nosso caso, estamos sempre muito próximos deles, e eles têm um enorme apego pela marca. A gente precisa ter um carinho enorme por essa galera”.

Os bebês realistas da Shyni Toys, da linha Baby Reborn, são um sucesso entre os colecionadores, como revelou a diretora Comercial Andreza Leão. Ela diz que, em razão do alto nível de exigência destes colecionadores, o cuidado com o produto nas lojas vai desde o manuseio até a entrega ao cliente. “O colecionador tem um perfil diferente, ele quer uma atenção especial”.

Outro objeto de desejo de muitos colecionadores são as miniaturas da linha Sylvanian Families, da Epoch Magia. A supervisora de Vendas Fabiana Costa reforça que a questão da nostalgia é importante para a empresa como estratégia de marketing e no desenvolvimento dos produtos.

E faz um alerta aos lojistas: “Nossa linha não pode ter ruptura, não pode faltar produto; senão, o colecionador vai embora e passa a comprar em outro lugar. Uma boa exposição e um time de vendas treinado também são essenciais”.

É mágica!

Muitos adultos tiveram um kit de mágicas na infância, mas poucos deles decidiram seguir nesse universo como profissão. Foi o caso da dupla de ilusionistas Henry e Klaus, sócios da Illusion, que comandou a apresentação “Revivendo um clássico: o kit de mágica repensado pelos maiores ilusionistas da América Latina”.

Enquanto entretinham a plateia do ABRIN Talks com alguns truques, eles disseminaram conceitos valiosos sobre o quanto a mágica pode trabalhar outros aspectos cognitivos, inclusive em crianças com deficiência.

“A gente viu em algumas escolas em que damos oficinas que o kit de mágica ajuda a estimular crianças com TEA e TDAH”, contou Henry. Klaus completou: “Nós conversamos com pedagogos e descobrimos que a mágica desenvolve várias habilidades, como socialização e inteligência múltipla”.

Especiais

Os ilusionistas seguiram no palco para o painel seguinte, “Categorias especiais no varejo: Brinquedos para diversidade, inclusão e pessoas com condições especiais”, que focou justamente em como o setor de brinquedos está tratando a inclusão social.

O diretor de Programação do canal ZooMoo Kids, Bruno Zanoni, destacou sua programação nacional e inclusiva. “A gente precisa desmistificar a palavra ‘inclusão’. Conteúdo acessível é o conteúdo padrão, só adaptado; o inclusivo é aquele totalmente pensado para este público, do roteiro às cores e sons”.

Rennan Gonçalves, CEO da Maloca Games, promove a diversidade por meio dos jogos da empresa, chamados de Afrogames. Ele contou que embora a questão étnica seja fundamental, seus jogos trazem tudo que os demais trazem em termos de cognição, matemática e raciocínio lógico. “A gente não está fazendo nada de inovador, está representando a população brasileira como ela de fato é”.

Na avaliação de Carla Delponte, CEO do Mundo Adaptado, o mercado de brinquedos para crianças com deficiência ainda é pequeno comparado com a quantidade de pessoas nessas condições no Brasil. “É muito difícil comprar brinquedos para crianças especiais no varejo”, apontou.

Ela garante que os brinquedos atuais só precisariam passar por uma adaptação para atender a esta parcela de crianças. “Oportunidades tem de monte neste mercado, basta olhar para ele de forma diferente”.

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